ESTRATÉGIA DA IGREJA PARA O DISCIPULADO
Recente estatística revela que a cada cem pessoas que aceitam Jesus como Salvador nas nossas igrejas Assembléias de Deus, somente cinco permanecem. Isso mesmo. Somente cinco. Não é de espantar?
O primeiro objetivo desta apostila, portanto, é buscar reverter este quadro, ou seja, retornar ao ponto de partida, como faziam os pioneiros missionários, quando começou as Assembléias de Deus no Brasil. O segundo objetivo é lançar um desafio aos discípulos de Jesus Cristo que desejam viver uma vida abnegada, em função do reino de Deus; o terceiro objetivo é convidar todo crente em comunhão com Cristo a reavaliar o seu real posicionamento sobre a questão do discipulado bíblico, ou seja, ser e fazer discípulos, como ensinou o Senhor Jesus. Ele treinou seus discípulos e os enviou de dois a dois, para pregar o evangelho. Depois nos deixou a Grande Comissão.
Antes de estudar o conteúdo desta apostila quero que você saiba que discipulado não é um tema de fácil aplicação, porque envolve a cruz de Cristo. A cruz de Cristo é símbolo de renúncia, e, renuncia é difícil. Por isso não é popular. Não atrai multidões.
Então abra seu coração para receber a mensagem de Deus. Não deixe que o conteúdo desta apostila seja apenas uma leitura a mais no seu currículo. Ao concluir o estudo desta apostila, não deixe de refletir e se posicionar diante de tudo o que foi dito.
Esta apostila esta dividida basicamente em três capítulos: O Discípulo, O Discipulador e o Método. Deixamos o método em último lugar porque entendemos que conhecer o fundador do método é mais importante. Se conhecermos bem o Mestre, o trabalho para Ele e com Ele será apenas uma conseqüência natural.
(Parte extraído do curso de Missões - EMAD)
O DISCÍPULO
A. Por que discipular?
Para responder esta pergunta vamos primeiro, recordar o texto da Grande Comissão explicado nos quatro evangelhos e também em Atos dos apóstolos.
Em Mateus 28.18-20 diz: Toda autoridade me foi dada no céu e na terra Ide, portando fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar o que eu vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos.
1. Você vai logo perceber que devemos discipular porque é uma ordem de Jesus.
Só o fato de ser uma ordem de Jesus já é suficiente para derrubar qualquer argumento. Mas analisando rapidamente esses versículos, vamos verificar que o imperativo, ou seja, a ordem, propriamente dita, não está na expressão Ide, como costumamos enfatizar. A forma do verbo, como aparece no original, está no gerúndio, isto é, indo. O sentido dessa expressão quer dizer que, aonde quer que os discípulos fossem, pregassem o evangelho e fizesse discípulos.
Entenda que não está errado o sentido dado pela tradução portuguesa, porque a idéia imperativa está nos verbos fazer discípulos e batizar.
Em Português, portanto, fica mais clara a colocação do imperativo no primeiro verbo.
O objetivo, portando, da Grande Comissão é, exatamente, fazer discípulos. Jesus mandou que os seus discípulos fizessem a mesma coisa com as novas pessoas que se convertessem, ou seja, verdadeiros seguidores de Jesus.
2. Em segundo lugar, devemos discipular porque é a melhor maneira do crente se envolver na obra de Deus.
Quantos membros há em nossa igreja Cem, trezentos, mil? Do total de membros que se congregam na nossa igreja, você seria capaz, de calcular quantos, realmente, estão envolvidos na obra de Deus? De fato, medir a temperatura espiritual de uma pessoa não é tarefa nossa. Mas, para que você tenha uma idéia do total de cristãos comprometidos com Deus e com sua obra, tente lembrar quantos sãos matriculados na Escola Dominical? Quantos são dizimistas fiéis? Quantos comparecem À REUNIÕES DE ORAÇÃO? Quantos evangelizam com freqüência nas praças públicas, hospitais, nas casas, prisões ou em outros lugares? Sei que você vai responder que a quantidade é mínima. Por esse ângulo, dá para se perceber que apenas 30 ou 50% é que podem ser considerados como cristãos ativos. Como cristãos ativos queremos enfatizar aqueles que estão sempre em busca de alcançarem outros discípulos para o Senhor. Isto, porém, não é uma regra.
Pois bem no decorrer do estudo desta apostila você entenderá que não é possível ser um discípulo estéril, que não produz frutos na sua vida cristã.
3. Também devemos discipular porque é a maneira mais eficiente do crente alcançar a maturidade cristã.
Ora, como você sabe, maturidade cristão nem sempre significa o tempo em que uma pessoa faz parte de uma igreja ou o tempo em que foi batizada nas águas, por exemplo. Muito mais que isso, maturidade cristã está relacionada com o crer, praticar e ensinar a Palavra de Deus.
Portanto, quando o crente passa a ensinar a Palavra de Deus para outros iniciantes na fé, terá de praticar o que vai ensinar ao seu discípulo.
Essa prática o fará mais zeloso com o estudo sistemático da Bíblia, para ter sempre o melhor para o seu discípulo.
B. Quem pode ser discípulo?
O Senhor lança um desafio à multidão que o seguia. Esse desafio incluía ate os doze homens que continuariam sua obra depois que Ele retornasse aos céus. Ainda não estava bem claro na mente dos discípulos o objetivo de Jesus. Alguns deles relacionavam a sua obra com a de outros homens do passado. Antes de continuar, abra a Bíblia em Mateus 16.13-23 que poderemos entender melhor.
Outros, realmente, acreditavam que Jesus era o Messias, aguardado desde os tempo de Moisés (Dt 18.15), que iria libertá-los do domínio do imperador romano e estabelecer o seu reinado. Nesse caso, era vantajoso ser amigo do futuro rei. posição, poder e riqueza era o que esperavam como recompensa de seguir o Senhor.
Vejamos, então, o convite que o Senhor lançou aos seus discípulos:
Mateus 16.24: Então, disse Jesus aos seus discípulos: Se alguém quiser vir após mim, negue a si mesmo, tome sobre si a sua cruz e siga-me.
Esse convite foi uma advertência solene para uma reavaliação do preço do discipulado.
Com essa advertência, Jesus não estava interessado em procurar homens e mulheres que lhe emprestassem algumas noites por semana em um templo fechado, ou alguns anos depois de sua aposentadoria, mas, alguém que estivesse disposto a se identificar com Ele em tudo.
A partir daquele momento, Jesus intensificou o treinamento e apresentou quatro requisitos essenciais aos interessados a ingressarem na sua Escola de Discipulado.
1. O PRIMEIRO REQUISITO É A DECISÃO VOLUNTÁRIA
Se alguém quiser vir após mim Mt 16.24
Esse requisito é indispensável. Seguir a Cristo não pode ser encarado como obrigação. Observe que a primeira expressão desse convite não foi em tom de exigência, como se fosse uma intimação forçosa. Aliás, não dá para pensar em andar ao lado de uma pessoa como se estivesse sendo forçada. já pensou um casamento nessas circunstancias? Já está fadado ao fracasso.
Para ser discípulo de Cristo é necessário querer. E querer de todo o coração. Não está escrito que duas pessoas não poderão andar juntas se não houver acordo entre elas (Am 3.3) Ser discípulo de Cristo é estar em completa comunhão com Ele.
Observe as palavras se e quiser. Em todo o texto sagrado encontramos esta condicional que deixa a pessoa à vontade para decidir e ao mesmo tempo incentiva à decisão. Veja na sua Bíblia os textos seguintes: Jo 7.37: Ap 21.7; Is 55.1. Acredito que deu para perceber nestes textos lidos que existe uma situação para acontecer, mas só haverá uma conclusão se houver iniciativa. Por exemplo: existe uma fonte de águas, mas esta fonte só terá utilidade se a pessoa que estiver com sede tiver a iniciativa de beber dessa água.
Portanto, o crente que segue a Cristo por tradição de família ou por qualquer outro motivo ilegítimo, deve agora fazer a sua decisão pessoal.
2. O SEGUNDO REQUISITO É A DETERMINAÇÃO
Jesus disse: Se alguém quiser vir após mim, negue a si mesmo, Mt 16.24.
Leiamos também em Lc 14.33: Assim, pois, qualquer de vós que não renuncia a tudo quanto tem não pode ser meu discípulo.
Uma pessoa determinada é alguém que sabe aonde quer chegar independente do que terá que enfrentar pelo caminho. O atleta vencedor, o colecionador de medalhas e troféus é uma pessoa determinada, porque ultrapassou todos os obstáculos. Esse atleta vencedor teve que treinar e treinar muito, até superar todas as dificuldades.
Vamos tentar entender o que significa renunciar, na área espiritual.
Significa não impor condições ou exigências para segui-lo.
Leiamos em Mateus 4.19-22. Observe que, quando o Mestre chamou alguns pescadores que trabalhavam à beira da praia, para que fossem feitos pescadores de homens, eles não pensaram duas vezes. Sublinhe na sua Bíblia as palavras logo (verso 19) e imediatamente (verso 22).
Veja mais outro texto em Gn 12.4, onde está descrita a chamada de Abrão. A primeira parte do versículo diz: Partiu, pois Abraão como ordenara o Senhor.
Você viu que Abraão, o nosso pai na fé, partiu da sua terra, como o Senhor lhe dissera, ou seja, da mesma maneira, sem questionar. Ele não impôs nenhuma condição ou qualquer exigência para seguir a orientação do Senhor naquele novo caminho.
Vamos imaginar que Abraão fosse um crente desconfiado. Daquele tipo que duvida de tudo e de todos. Vamos imaginar, também, que Abraão tivesse exigido do Senhor o seguinte: Tudo bem, Senhor, eu saio da minha terra, do meio dos meus parentes e amigos, porém, primeiro, eu quero conhecer se essa terra é boa mesmo. E se não der certo, como é que eu vou encarar os meus parentes Tudo bem, Senhor, mas,... eu quero garantia.
Será que, se essa tivesse sido a atitude desse gigante espiritual, leríamos alguma coisa mais a respeito dele no capitulo dos heróis da fé, em Hebreus? Leia mais Hebreus 11.8-11.
O que é que lemos a respeito de Tomé depois do episódio descrito por João no capitulo 20, versos 25 a 29?
Então, renuncia significa não impor condições ou qualquer exigência para seguir o Mestre. É confiar totalmente.
2.1. Renuncia significa esquecer os seus interesses em favor dos outros.
A Tradução na Linguagem de Hoje (TLH), apresenta esse texto de maneira interessante: Se alguém quer me seguir, esqueça os seus próprios interesses, carregue a sua cruz e me acompanhe.
Leia, agora, os seguintes textos: I Co 10.24,33: Fl 2.4: Rm 15.1,2.
Você concorda que estas mensagens foram escritas somente para a época em que viveu o apostolo Paulo ou, também, pode ser praticado nos nossos dias atuais?
Tenho certeza que você escolheu a segunda alternativa. Mas, deixe-me arriscar uma outra questão: na sociedade em que vivemos, cheia de corrupção, onde os interesses pessoais falam mais alto, onde a busca pelo enriquecimento é cada vez mais forte, onde as pessoas só são valorizadas se tiverem algo que oferecer em troca, etc.: sim, nesta sociedade é possível praticar tais ensinamentos ensinados pelos apóstolos?
Muito bem. Esquecer seu interesse soa muito forte. Então vamos tentar suavizar. Vamos substituir esta expressão por abrir mão dos seus interesses.
Dessa forma fica mais pratico entender o texto de Filipenses 2.4-11. Note a expressão não teve por usurpação ser igual a Deus. A palavra usurpação não quer dizer que Cristo abriu mão da sua divindade, mas sim, que ele abriu mão das suas horárias como Filho de Deus para salvar os homens, dentre esse, eu e você.
Voltemos mais uma vez para outro exemplo de vida do nosso pai na fé, Abraão. Leia Gn 13.7-18.
Como está escrito no texto lido, havia contendas entre os pastores de Abraão e Ló. Para que esse problema fosse solucionado, Abraão sugeriu que Ló escolhesse o melhor lugar daquela terra para viver com as suas fazendas. Ló não perdeu tempo, escolheu a melhor parte, onde seus rebanhos teriam condições de produzir mais. Quem deveria escolher as melhores terras seria Abraão, porque fora ele que havia sido chamado por Deus e não Ló: Abraão era o responsável pela expedição, além do mais, ele era o tio e, naquela sociedade em que viviam, ele merecia maior respeito, por ser o mais idoso. Todavia o que vemos é exatamente o contrário: Abraão abre mão dos seus interesses em favor de seu sobrinho.
Mas não ficou só nisso. Depois que Ló escolheu sua área de terra e partiu, o Senhor chamou o patriarca e mostrou-lhe uma nova dimensão de sua chamada. Veja o verso 14 ?E disse o Senhor a Abrão, depois que Ló se apartou dele: Levanta agora os teus olhos e olha?.
O Senhor, então, ampliou-lhe o quanto seria abençoado. Sim, depois que ele abriu mão dos seus próprios interesses. Isto é renuncia. Isto é discipulado.
Observe bem como as coisas de Deus são coerentes: Quando eu abro mão de meus interesses em favor dos interesses do meu irmão e esse irmão abre mão dos seus interesses a meu favor, aí as coisas se completam.
Então surge a grave questão: E se esse irmão não fizer a sua parte?
Nesse caso, a melhor resposta é a que está escrita em Hebreus 6.10. Deus não é injusto. Se o irmão falhar, o nosso Deus não falha!
2.2. Renúncia também significa submissão.
Isto é, abrir mão dos seus conceitos e submeter-se aos conceitos de Cristo.
Se um discípulo sabe o que o seu Mestre quer e não o faz, então ele põe em dúvida a submissão professada. Em outras palavras, significa tirar o "eu" do trono e colocar Jesus. Este pronome na Bíblia, constantemente, é símbolo de insubmissão, de vontade própria, até mesmo enfatiza os desejos da carne. Em Gálatas 5.24 está escrito que: Os que são de Cristo crucificaram a carne com as suas paixões e concupiscências. Logo, cristo não pode ser o Senhor da minha vida, enquanto o ?eu? estiver no trono. Para que Cristo esteja no controle, o "eu" precisa morrer. Esse morrer é renunciar.
Em síntese, o discípulo de Cristo deveria, sempre, estar pronto a renunciar a tudo o que tem, tudo o que pensa e tudo o que gostaria de ser.
Como explicado em Lucas 14.33, renunciar ao que tem, não significa que não podemos possuir bens materiais, mas, sim, que não podemos deixar que esses bens nos possuam. E quanto a renunciar a tudo o que gostaria de ser, o discípulo, em vez de planejar o seu próprio futuro, é chamado para seguir com total abandono, crendo que o Senhor garantirá cada passo do seu caminhar.
Você crê que o Senhor é fiel (2Tm 2.11-13) e que pode garantir o melhor do seu futuro, como fez com Abraão?
Cranfield disse: Negar a si mesmo é repudiar não apenas os seus pecados, mas o seu "eu". É dar as costas à idolatria do egocentrismo.
2.3. Renuncia também é símbolo de desprendimento.
Conta-se que dois marinheiros estrangeiros ao chegarem ao Rio de Janeiro, desejaram conhecer melhor a Cidade Maravilhosa. Desembarcaram no Píer da Praça Mauá e caminharam durante toda a tarde, quando, também, aproveitaram para ingerir alguma bebida alcoólica. Já tarde da noite, alegres por conhecerem a linda cidade, e tontos, com o efeito da bebida, embarcaram na barquinha que os levaria de volta ao navio ancorado na Baía da Guanabara, Remaram todo o resto da noite. Quando o dia já estava clareando, um dos marinheiros percebeu que eles não haviam saído do lugar.
É que eles esqueceram de desamarrar a barquinha.
Você já observou que há crentes que não conseguem prosperar na vida espiritual? Que estão sempre como se fossem novos convertidos?
Talvez alguma coisa esteja atrapalhando esse crescimento. Quem sabe, algum compromisso com o mundo, negócios ilícitos, relacionamentos com pessoas suspeitas, que não professam o nome do Senhor, etc
E com você?
Como está o progresso da sua vida espiritual?
Há, porventura, alguma coisa que está atravancando o seu caminhar?
Se algo incomoda a sua consciência, que tal renunciar agora mesmo:
Solta o cabo da nau!
Toma os remos nas mãos e navega com fé em Jesus!
E, então, tu verás que bonança se faz.
Pois, com Ele, seguro será.
Se esse não é o seu caso, interceda por alguém conhecido que passa por algum problema nessa área.
2.4. O significado da renúncia no cristianismo modernista.
Até aqui, creio que deu para se perceber porque o discipulado verdadeiro faz reduzir e muito as fileiras do discipulado. No mundo moderno, o cristianismo parece que é entendido mais como uma fuga do inferno e uma garantia do céu.
3. O TERCEIRO REQUISITO É CONSCIÊNCIA
Então disse Jesus aos seus discípulos: Se alguém quer vir após mim, renuncie-se a si mesmo, tome sobre si a sua cruz, e siga-me, Mt 16.24.
Os discípulos de Jesus sabiam muito bem o que isto significava. Naquela época era comum presenciar-se uma cena de alguém carregando uma cruz em direção ao calvário. Todos sabiam que aquela pessoa havia sido julgada por algum crime cometido e condenada á pena máxima. O condenado era exposto à vergonha e ao desprezo público. Geralmente atiravam-lhe pedras, batiam-lhe com varas e cuspiam-lhe na face. Os escritores contemporâneos descrevem a crucificação como a forma mais humilhante de morrer.
Era a mesma coisa que alguém ser encaminhado para a cadeira elétrica. Era morte certa.
O discípulo de Cristo assume as conseqüências da sua decisão, conscientemente. Essa cruz não significa problemas de ordens materiais como doenças, desemprego, cônjuges ou filhos problemáticos.
Quando Jesus falou sobre os sofrimentos pelos quais teria que passar e, por fim, a morte, Pedro não entendeu. Tentou convencê-lo a retroceder dos seus objetivos. Foi nessa hora que Satanás o usou visando sucesso. Note bem: Pedro era o grande líder do grupo dos doze. Era ele que sempre tomava todas as iniciativas. Lembra da declaração que ele fez a respeito de Jesus ?Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo? (Mt 16.16)? Jesus disse que foi o próprio Deus que colocara aquelas palavras em sua boca. Mas alguns minutos depois, ao tentar fazer com que Jesus desistisse da cruz (Mt 16.22), o que foi que aconteceu? Já não era mais Deus falando, e sim, satanás!
O que foi que Jesus respondeu a Pedro no versículo 23?
"Arreda-te Satanás, tu és para mim pedra de tropeço, porque não cogitas das coisas de Deus, mas dos homens".
Então, não são poucas as vezes que um discípulo vê-se assediado a retroceder, tendo como protagonista uma pessoa amiga. Pedro se auto-proclamava o melhor amigo de Jesus.
3.1. Comparações com a cruz do contexto
O criminoso romano carregava a sua cruz até o lugar da sua execução.
O discípulo carrega a sua cruz, renúncia de si mesmo. Para servir unicamente a Cristo, mesmo até a morte.
Assim como a morte na cruz é horrível e causa enormes sofrimentos, o discípulo de Cristo não está isento de tais sofrimentos, até mesmo da morte, como os apóstolos que foram martirizados por causa da sua fé!
Assim como o condenado à morte de cruz não podia ocultá-la, pois era obrigado a transportá-la publicamente às costas, assim também o discípullo não pode ocultar a sua identidade.
Há, entretanto, muitos crentes sem a cruz de Cristo!
Observe bem a seguinte declaração:
Os evangelistas modernos caem na armadilha de pintar o discipulado cristão como algo fácil e potencialmente provocativo de prosperidade terrena, como meio comum de se evitar os problemas humanos comuns?.
Não é verdade, diz o evangelho. Queres seguir a Jesus? Então o caminho a seguir é a cruz!?.
Você tem sido humilhado por ser um crente em Jesus Cristo?
Aqueles que se diziam seus amigos o abandonaram e, agora, escarnecem de você?
Por vezes você tem sido tratado com indiferença, como se fosse a escória da sociedade?
Então louve a Deus! Essas coisas são sinais da cruz de Cristo em sua vida.
3.2. O que significa a cruz de Cristo
Tomar a cruz significa dedicação total, consagração em profundidade. Significa viver para Deus.
Parece que em toda a Bíblia não vemos alguém tão dedicado, tão consagrado, alguém com tanta vontade de amar e servir a Deus e a à sua obra como o apóstolo Paulo. É possível que até hoje ainda não tenha surgido uma pessoa com nível espiritual tão elevado. Das qualidades e realizações desse apóstolo sabemos que ele foi o maior escritor da Bíblia, o maior missionário, o apóstolo que mais plantou igrejas, que treinou líderes, que doutrinou igrejas, que nos presenteou as mais belas declarações teológicas a respeito da pessoa de Cristo, do Espírito santo, do próprio Deus Pai, além de tantas outras doutrinas. sua sabedoria foi tão notória que outros apóstolos reconheceram como vindas diretamente de Deus, 2 Pe 3.15,16.
Veja o que ele disse a respeito da cruz de Cristo em Gl 2.j20:
"Logo já não sou eu que vive, mas Cristo vive em mim. Esse viver que agora tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus que me amou e a si mesmo se entregou por mim".
Por essa razão ele possuía autoridade de sobra para nos estimular à consagração em profundidade, como a mensagem de Rm 12.1,2
Esse homem parecia-se tanto com Cristo que, nesse versículo , não dá para perceber se era o homem Paulo mesmo, ou era o próprio Cristo que vivia através dele. Dessa forma, era Cristo que curava através de Paulo, que salvava através dele, que operava milagres extraordinários por ele, que amava, que exortava, que consolava, etc, tudo através de Paulo, como se fosse o próprio Cristo.
É claro que não dispomos de espaço para comentar mais em termos teológicos essa passagem , mas, em termos devocionais, isto significa viver totalmente para Deus.
Nos dias atuais será que é possível manter uma comunhão tão próxima de Deus como esta de Paulo?
Foi o professor de Escola Dominical, Edward Kimbal, que falou para seu aluno Dwight L. Moody, o seguinte: " Este mundo ainda estar para ver um homem usado por Deus na sua geração. Sem meditar para refletir e sabendo que esta mensagem era um desafio, Moddy respondeu: " Eu serei esse homem". E foi mesmo.
Todavia, somos constantemente influenciados a satisfazer nossos orgulhos, desejos e vontades. Assim que, quando ouvimos expressões como: "tome a sua cruz", "apresente o seu corpo em sacrifício vivo" ou "nada façais por partidarismo ou vanglória", a nossa tendência é recuar. O homem natural não entende essas coisas, 1 Co 1.18 e 2.14.
3.3. O Caminho da cruz representa a vontade de Deus.
Voltemos ao Getsênani, o jardim onde Jesus sofreu a terrível agonia da cruz. Por três vezes ele orou tão intensamente, com tamanha aflição, que o seu suor tornou-se em gotas de sangue, (Lc 22.44). O insistente pedido de Jesus era que o Pai não permitisse que ele sofresse as agruras da cruz. Depois de tanto sofrimento, Jesus viu que só havia uma solução, que foi render-se à vontade de Deus. "Pai, seja feita a tua vontade", Mt 26.42.
Jesus mostrou que, embora sendo filho de Deus, essa vontade teria de ser cumprida. Os seus discípulos precisam andar no mesmo caminho.
3.4. A batalha de cada dia
Em Lc 9.23 diz:
"Se alguém que vir após mim, negue a si mesmo, tome sua cruz de cada dia, e siga-me"
Você observou que Lucas acrescenta a expressão cada dia. Isto traz a cruz do passado para a existência contemporânea. Não simboliza somente a morte de Cristo, mas também um modo de vida ? o oferecimento diário do seu eu à vontade de Deus.
Você já imaginou se tivéssemos que tomar banho somente uma vez na semana?
Em alguns países onde o frio é muito intenso, esse costume é até comum. Mas para o nosso clima tropical, esse costume não é nada agradável. È difícil estar próximo de alguém nessas condições, não é?
Se a higiene corporal não for feita diariamente, assim como, também, a alimentação, o descanso, etc., problemas de ordem física e espiritual se aproximam.
Cada dia, portanto, enfatiza a dinâmica da vida cristã, ou seja, o discipulado cristão exige uma ação continua, ininterrupta.
A colheita do maná é um símbolo vivo da renovação diária que deve haver na vida do discípulo.
Leia Êxodo 16.4 .
"Então disse o Senhor a Moisés: Eis que vos farei chover pão dos céus, e o povo sairá, e colherá diariamente a porção para cada dia, para que eu veja se anda na minha lei ou não".
Então, o maná só servia para o mesmo dia, com exceção de sexta-feira. Se sobrasse, ficava estragado. O senhor ficava aborrecido quando alguém colhia demais. Compare Ex 16.20 com 16.28.
Isso significa que as bênçãos adquiridas no passado servem, apenas, para edificação e estímulo para a busca constante de novas bênçãos nas fontes inesgotáveis de Deus. Ele tem muitas e muitas bênçãos para nos presentear todos os dias. Por que, pois, viver só em função de bênçãos do passado?
4. DISPOSIÇÃO PARA O TRABALHO
O quarto requisito essencial aos interessados a ingressarem na Escola de Discipulado de Jesus é a disposição para o trabalho.
"E dizia a todos; Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome cada dia a sua cruz, e siga-me, Lc 9.23".
O Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento apresenta a palavra grega akolouthéo para explicar o temo "seguir": Indica a ação de um homem que responde à chamada de Jesus, cuja vida recebe novas diretrizes em obediência.
O mesmo dicionário continua afirmando que no grego clássico, seguir significa "ir para algum lugar com outra pessoa".
No judaísmo, esta palavra estava ligada diretamente ao relacionamento entre um aluno do Torá e o rabino (professor). O aluno subordinava-se a este rabino, seguia-o em todo o lugar por onde este andasse, aprendendo dele e servindo-o.
"No grego do Novo Testamento, em regra geral, sempre indica o início do discipulado."
4.1. É preciso calcular o preço.
Leia a parábola descrita em Lucas 14.27-33 que fala sobre a questão das disponibilidades em seguir o Mestre.
_Entenda, quem deve, mesmo, fazer o cálculo?
A primeira ilustração é relacionada com a construção de uma torre e a outra com táticas de guerras.
Ambas envolvem avaliação de altos custos.
Mas Jesus não diz que nós é que devemos fazer o cálculo dos custos.
O cálculo é feito pelo engenheiro responsável pela construção e pelo rei empenhado na batalha. Não são os pedreiros nem os soldados.
Quando Jesus referia-se aos cálculos dos empreendimentos, ele estava pensando em si mesmo. Ele já possuía os cálculos da construção do edifício e da batalha.
Por que as exigências são tão rígidas e os custos elevados?
_Porque os operários terão que ser altamente treinados, qualificados, dedicados à obra.
_Os soldados terão que ser capacitados, bem armados e corajosos.
É preciso atentar para o detalhe que, ao falar sobre os custos, Jesus não estava insinuando o temor ao fracasso. Jesus sempre estimulou os seus discípulos a superarem esse tipo de temor.
Alguém disse o seguinte: "Se alguém temer o fracasso é provável que consiga isso mesmo."
4.2. envolve sacrifícios.
Os primeiros discípulos deixaram bens e ocupações, Lc 5.11; Mt 4.20.
É claro que, nem sempre, significa abandonar empregos, mudar de profissão ou doar os bens. Zaqueu quis doar parte dos seus bens quando se tornou discípulo, porque foram adquiridos ilicitamente.
4.3. Seguir a Cristo não pode haver retrocesso, Lc 9.62
Como um pára-quedista depois de lançado, não pode mais retornar para o avião!
4.4. O amor do discípulo à família, Mt 10.37
Lucas usa um termo ainda mais forte para chamar atenção daqueles que desejam ser discípulos de Cristo.
Leia Lucas 14.26: "Se alguém vier a mim e não deixar a seu pai, e mãe, e mulher, e filhos, e irmãos, e irmãs, e ainda também a sua própria vida, não pode ser meu discípulo."
Jesus disse que não é necessário abandonar os familiares para segui-lo, mas se estes forem um impedimentos para o crente servi-lo livremente deve-se dar a prioridade a Cristo.
Entenda bem esta expressão. Longe de ser considerado uma incoerência bíblica, a prática, entretanto, revela que aqueles que amam a Cristo nesse nível, são os que mais amam os seus pais.
Cristo, também, não está se voltando contra o lar e suas relações familiares, porque ele mesmo instituiu a família, mas mostra que há uma relação ainda mais elevada, isto é, a relação espiritual com Deus.
O amor a Cristo dever ser superior até mesmo ao da família. Aquele que não tem tal amor não sofrerá oposição por parte da família ao querer tornar-se discípulo. Nesse caso a influência familiar colocaria fim ao discípulo.
4.5. Nova família
Cristo é nosso irmão mais velho, porque somos co-herdeiros;
Deus é nosso Pai; os demais discípulos são nossos irmãos; nessa família os laços são eternos.
Nesse caso "se for preciso negar a um pai, é melhor negar o pai terrestre do que o pai celeste; se for preciso negar a um irmão, é melhor negar a um irmão terrestre do que a Cristo, o irmão celeste. Se for preciso escolher entre um noivo terrestre e o Noivo celeste (Cristo), é perfeitamente claro que o discípulo autêntico só pode preferir a Cristo."(Citado por Russel N. Champlin, em O Novo Testamento Interpretado Versículo por Versículo).
(Extraído do curso da Emad)